Mutirão Amor por Osasco – A prefeitura sabe que o Estado é laico?
Quando as autoridades optam por promover uma religião específica em um espaço público, mesmo que essa religião seja popular, estão violando o princípio do Estado Laico e comprometendo um pilar da democracia.
6 jun 2023, 13:23 Tempo de leitura: 1 minuto, 41 segundosO prefeito, vários secretários, funcionários comissionados de diferentes órgãos, servidores concursados na prefeitura e outros do programa de trabalho (POT), todos, sem exceções, de mãos dadas e rezando de acordo com a tradição evangélica. Essa cena, que seria banal em espaços privados, chama a atenção por ocorrer em um evento público promovido pela Prefeitura de Osasco.
O prefeito Rogério Lins inaugurou uma segunda temporada do “Mutirão Amor por Osasco”. A primeira coisa a mencionar é que, apesar do nome “mutirão”, não se trata de mobilização voluntária do povo em prol do bem comum – é uma ação coordenada pela prefeitura com forte investimento em marketing, materiais gráficos e divulgação online. É curioso que a prefeitura trate serviços de zeladoria e limpeza, que deveriam ser realizados regularmente, como grandes eventos midiáticos. Contudo, isso não difere muito do estilo voltado para o marketing da prefeitura de Osasco.
O que causa preocupação é a religiosidade compulsória que abre todos os eventos. Sabemos que muitas pessoas na cidade têm fé evangélica – o último censo estimou os evangélicos em quase um terço da população. No entanto, é altamente improvável que todos presentes sejam evangélicos e, considerando a natureza de seus vínculos (funcionários, muitos deles do programa de trabalho POT e cargos comissionados) diante do prefeito e outras autoridades, não é difícil imaginar que vários dos presentes se sentiram compelidos a participar do ato religioso.
O Estado Laico é a forma de organização na qual todas as religiões são respeitadas e protegidas, assim como o direito de não ter religião e/ou não seguir nenhuma divindade. Quando as autoridades optam por promover uma religião específica em um espaço público, mesmo que essa religião seja popular, estão violando o princípio do Estado Laico e comprometendo um pilar da democracia.
Rafael Borguin