Guarda Municipal com .40 e Fuzil?

“O cano da arma tem que ser grosso e longo” - Foi enchendo a boca para dizer essas palavras que Delbio Teruel, político antigo da cidade que ocupa hoje cadeira de vereador na suplência, defendeu a destinação da emenda ao qual tem direito para a compra de armas de calibre .40.

21 jun 2022, 16:11 Tempo de leitura: 3 minutos, 30 segundos
Guarda Municipal com .40 e Fuzil?

Solução para Segurança Pública ou Risco para a População e Guardas

Nos últimos meses com a proximidade das eleições se instaurou uma corrida entre os políticos da região para se mostrarem como os mais corajosos no combate à criminalidade. Sem dúvida, esbravejar contra o crime rende votos, mas será que é capaz de diminuir a violência urbana e aumentar a sensação de tranquilidade da população?

Entre o Fetiche das Armas e as Políticas Públicas de Diminuição da Violência com Bases Científicas.

“O cano da arma tem que ser grosso e longo” – Foi enchendo a boca para dizer essas palavras que Delbio Teruel, político antigo da cidade que ocupa hoje cadeira de vereador na suplência, defendeu a destinação da emenda ao qual tem direito para a compra de armas de calibre .40. O prefeito Rogério Lins e o vereador Josias também festejaram a chegada de quase 250 pistolas .40 e 10 carabinas (arma muito semelhante ao fuzil). Essa política que celebra a arma de fogo se conecta com o sentimento de raiva e revanche que as pessoas sentem em relação aos criminosos, gerando prestígio político. Mas no longo prazo se estabelece uma corrida por armamentos cada vez mais pesados, diminui o incentivo a que o criminoso se entregue quando cercado, desvia o foco do trabalho investigativo e preventivo e cria confusão de competências entre a Polícia Militar, Civil e Guarda Municipal. 

Há muitos anos especialistas como os do Núcleo de Estudos da Violência da USP insistem que a violência urbana é causada por múltiplos fatores como perfil demográfico, falta de acesso a serviços públicos de educação e saúde, ausência de coesão familiar e integração com a comunidade, masculinidade tóxica, pobreza e desigualdade social. E, logicamente, a solução do problema da violência passa por uma solução integrada que envolva as diferentes esferas de poder e toda a sociedade.

O Jovem Periférico Não é o Inimigo

A violência urbana é fenômeno muito ligado aos homens jovens. Políticas de educação e permanência escolar, acesso à cultura diversa, saúde voltada a prevenção dos vícios e aos aspectos mentais e a garantia de empregos e perspectiva de carreira são muito mais eficientes do que a ideia estapafúrdia de tratar um jovem que foi a um baile funk com bala de borracha, cassetada e bomba. Quem se beneficia de uma política de segurança voltada para o confronto e que trata o jovem periférico como inimigo é o crime organizado.

Treinar Guarda Municipal com a Rota, submeter os servidores da segurança a provações semelhantes a tortura e distribuir com critérios duvidosos armas de enorme poder de fogo, no curto prazo, pode render votos, mas não resolverá o problema da criminalidade e pode aprofundar o círculo vicioso da violência.

Guarda Municipal Não Pode Virar Tiktoker do Mundo Cão   

Na AtivOz respeitamos profundamente os Guardas Municipais porque valorizamos todos os servidores públicos da cidade que dedicam suas carreiras para que Osasco seja melhor. E como acontece com os outros servidores, os Guardas têm carreiras, salários e condições de trabalho muito piores do que as ideias e merecidas. 

O Guarda Municipal é um servidor que anda armado e por isso tem uma responsabilidade especial. É papel do poder público selecionar, treinar e acompanhar de perto esses profissionais, zelando por sua saúde mental e controle sobre suas atividades. O suícidio por arma de fogo, a corrupção e o abuso de poder são problemas encontrados nas melhores polícias do mundo e não deve ser nada constrangedor que essas questões sejam debatidas e controladas.

Preocupa, particularmente, a quantidade expressiva de Guardas Municipais que filmam e divulgam suas ações nas redes sociais, muitas vezes identificando colegas da corporação, vítimas e suspeitos, colocando direitos civis e a segurança operacional em risco. Essa não é uma conduta profissional e não deveria ser tolerada.