Economia do cuidado: Quem cuida de quem cuida?
No último dia 26 de novembro aconteceu o lançamento da Campanha de 16 dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres, aqui em Osasco. Quando falamos no tema, pensamos em diversas formas de violência que vão desde a física até a psicológica. Mas pouco se pensa em violência estrutural. A economia do cuidado […]
15 dez 2021, 14:38 Tempo de leitura: 3 minutos, 19 segundosNo último dia 26 de novembro aconteceu o lançamento da Campanha de 16 dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres, aqui em Osasco. Quando falamos no tema, pensamos em diversas formas de violência que vão desde a física até a psicológica. Mas pouco se pensa em violência estrutural. A economia do cuidado está totalmente relacionada à violência estrutural contra as mulheres. A estrutura da nossa sociedade impede igualdade entre os cidadãos: as mulheres são muito atribuladas de funções, enquanto os homens são cuidados por elas o tempo todo.
Na maioria dos lares, as mulheres são responsáveis pela gestão do cuidado de atividades não remuneradas. O trabalho de cuidado envolve muitas horas e tempo dedicado ao zelo com a casa e com pessoas, como por exemplo, dar banho e fazer comida, faxinar a casa, comprar os alimentos que serão consumidos, cuidar das roupas (lavar, estender e guardar), prevenir doenças com boa alimentação e remediar quando alguém fica doente além de fazer café da manhã, almoço, lanches, jantar para os filhos, educar e tudo isso segue por horas a fio. Isso quando não há presença de idosos que também precisam de muito cuidado e atenção! Todo o trabalho realizado pelas mulheres é essencial para a humanidade, porém é invisibilizado a todo momento.
É crucial pontuar que as meninas e mulheres dedicam 12,5 bilhões de horas durante a vida para as atividades do cuidado de acordo com a Oxfam. Em média as mulheres brasileiras passam 61 horas por semana em atividades não remuneradas. Além disso, o trabalho desempenhado pelas mulheres e não remunerado equivale a 10 trilhões de dólares que deixam de ser pagos por ano, o que se equipara a 24 vezes a Economia do Vale do Silício e 11% do PIB.
Tudo isso dá subsídio para que outros mercados se sustentem, como na política, na indústria, no comércio, no agronegócio, nos serviços, no transporte e na tecnologia. Convivemos em um mundo onde os 22 homens mais ricos do mundo acumulam mais riqueza do que todas as mulheres africanas juntas, o que escancara a desigualdade. Esses dados atendem aos interesses do capitalismo, de modo que o trabalho oferecido pelas mulheres e não remunerado economiza para o mercado trilhões.
Como efeito, deixar de remunerar o cuidado é promover violência estrutural, principalmente, contra as mulheres, mães, mães solos, empregadas, professoras, enfermeiras, babás, cuidadoras.
Toda essa dedicação à sobrevivência, ao bem-estar e/ou à educação de pessoas, assim como à manutenção do meio em que estão inseridas causa um desgaste imenso à vida das mulheres e elas não têm quem cuide delas. E quando têm a sorte de ter um apoio, este vem de outra mulher que na maioria das vezes está na mesma família. Ou seja, homens não fazem parte deste círculo de cuidados.
As mulheres negras são hoje as que sofrem os piores níveis de desemprego, precariedade do trabalho, o que é um dos principais elementos explicativos da feminização da pobreza. E em sua maioria, quando conseguem trabalho (por conta de diversas dificuldades de acesso) também estão envolvidas na economia do cuidado. Atuam como cuidadoras, faxineiras, cozinheiras, babás etc.
Ao olharmos para a sociedade de modo geral, todas as pessoas têm 24 horas disponíveis em 1 dia, porém as horas dos homens não são as mesmas das mulheres. Enquanto mulheres não param de cuidar das pessoas o dia todo, homens são cuidados por elas. Mesmo em seus locais de trabalho há mulheres cuidando dos espaços, da alimentação e do bem-estar de todos.
Daí vem a seguinte questão a nossa mente: Quem cuida de quem cuida? Quem cuida dessa mulher que está o tempo todo dedicada à família? Já parou para pensar nisso?!