AtivOz homenageia grevistas de 1968. Viva a classe operária!

Em conjunto com membros do MODEPHAC (Movimento em Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Osasco), a vereadora Juliana Curvelo, da mandata AtivOz, organizou, dia 5 de agosto, sessão solene na Câmara Municipal de Osasco em homenagem aos trabalhadores da Cobrasma que participaram da greve de 1968.

9 ago 2022, 10:10 Tempo de leitura: 4 minutos, 0 segundos
AtivOz homenageia grevistas de 1968. Viva a classe operária!

Em conjunto com membros do MODEPHAC (Movimento em Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Osasco), a vereadora Juliana Curvelo, da mandata AtivOz, organizou, dia 5 de agosto, sessão solene na Câmara Municipal de Osasco em homenagem aos trabalhadores da Cobrasma que participaram da greve de 1968. O evento integrou as comemorações do dia 16 de julho, instituído no calendário oficial da cidade em honra à greve dos metalúrgicos osasquenses que se mobilizaram contra as condições de trabalho e a violência da ditadura civil-militar. Compuseram a mesa, além da vereadora Juliana Curvelo, os ex-vereadores Rosa Eleutério e Roque Aparecido, a presidente do PSOL Osasco, Solange Pall, e Marlene Groff, esposa de José Groff, membro da FNT (Frente Nacional do Trabalho) e presidente da Comissão de Fábrica da Cobrasma em 1968.

Ocupação e paralisação
Foi no dia 16 de julho de 1968 que, organizados pelas bases sindicais e com o apoio das famílias, dois mil operários da Cobrasma pararam a fábrica. O movimento, construído pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, pela Frente Nacional do Trabalho, pelos padres operários, pelos operários estudantes e pela comissão de fábrica, também paralisou a Lonaflex e, no dia seguinte, teve a adesão dos trabalhadores da Braseixos, Fósforos Granada, Brown Boveri e Barreto Keller, fazendo com que a cidade de Osasco se tornasse referência nacional na luta dos trabalhadores contra a violência do Estado.

Tortura e morte
Presidindo a sessão, Juliana Curvelo, que é filha de metalúrgico, lembrou da importância do líder Zequinha Barreto, que foi preso – junto com outros 400 trabalhadores¬ – quando a polícia invadiu a Cobrasma. José Campos Barreto passou 98 dias encarcerado no DOPS/SP e, libertado por meio de um habeas corpus, passou a viver na clandestinidade, militando na VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), até ser morto por agentes do Estado em 1971, na Bahia. O documentário “Passaporte para Osasco”, de Rui de Souza, foi exibido após a fala da vereadora.
João Joaquim da Silva, um dos operários que iniciou a greve, rendeu homenagem aos colegas. “Meus colegas de Cobrasma eram como uma corrente. À medida que nos aproximávamos, nos sentíamos mais fortes”, afirmou, exclamando: “Viva a classe operária!”

Padres e donas de casa: retaguarda
A fala de Marinete Brito Brasil, que vive em Osasco há 70 anos, emocionou os presentes. Ela contou que era dona de casa e frequentava as reuniões do padre francês Pierre Wauthier, operário da Cobrasma preso na greve e expulso do Brasil. Esse episódio foi marcante e fez com que ela continuasse na luta: participou da formação de algumas comunidades eclesiais de base e fundou, junto com o advogado Albertino Oliva, o CDDH-O, Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Osasco, em 1977, em plena ditadura, o segundo centro dessa natureza do Brasil. “Lutamos muito para despertar as pessoas para a realidade social”, afirmou.
Preparada para atuar no apoio às famílias dos grevistas, Sônia Miranda, esposa do operário Joaquim Miranda, recordou, em sua fala, que a greve começou quando ela estava no final da gravidez da primeira filha, e que seu marido estava preso quando a criança nasceu. “Por esse motivo, demos à nossa filha o nome de Denise Liberdade”, revelou. Sônia fez um apelo para que Osasco mude o nome da praça Manoel Salles Coutinho, torturador de Zequinha Barreto. “Apesar de meu marido ter sido torturado em pau de arara e carregar sequelas até hoje, nunca nos entregamos! Mas esse nome tem que mudar, em respeito aos que sofreram”, concluiu.

Osasco, sinônimo de violência
No encerramento da sessão, que contou ainda com falas do professor da Unifesp Antônio Carlos Roxo (autor de tese sobre a história da Cobrasma), de Aldo Rocha (presidente do PCdoB), de Eduardo Real (secretário de formação do PCB) e de Aluísio Pinheiro (presidente do PT), a vereadora Juliana Curvelo dirigiu uma saudação àqueles que vieram antes e que participaram dessa luta. “Este não é um espaço fácil, mas é necessário. Relacionando o passado com o presente, estamos vivendo igualmente um período de extrema recessão, em que trabalhadores e servidores vêm perdendo seus direitos, e há muita gente morrendo nas ruas por lutar por direitos constitucionais. Por isso, temos que ficar atentos. Se não recuperarmos a história, os osasquenses não conhecerão seu passado, e nem o real motivo pelo qual a cidade ficou conhecida como uma localidade violenta. A violência se deu por parte do Estado e não dos operários”, ressaltou, finalizando: “Vamos continuar lutando para que essa memória não se apague porque queremos continuar vivos”.