Reconhecimento Facial em Osasco? Projeto Parece Moderno, mas Reforça Racismo
O plano da prefeitura de Osasco de colocar reconhecimento facial na cidade é uma péssima ideia.
10 mar 2022, 11:36 Tempo de leitura: 1 minuto, 51 segundosA emergência da tecnologia de reconhecimento facial, uma subárea da Inteligência Artificial, não tem ocorrido sem grandes controvérsias. A tecnologia funciona por meio de algoritmo de Machine Learning e consiste em capturar a imagem do rosto com sensores e registrar os pontos que indicam distâncias dos olhos, o tamanho da boca, a largura do queixo, etc, para depois associar essa “assinatura eletrônica” a um indivíduo e compará-la com um banco de dados. Algumas aplicações dessa tecnologia são inofensivas, como a autenticação de usuários em dispositivos digitais e contas bancárias. Muito diferente, no entanto, quando esses dispositivos são utilizados em sistemas de vigilância, por exemplo, como política de segurança pública.
Não é à toa que países e gigantes da tecnologia – como Amazon, IBM, Facebook e Microsoft – estão banindo o reconhecimento facial. Isso porque a estrutura desses sistemas e principalmente os bancos de dados disponíveis, ao invés de neutros e imparciais, produzem altos índices de erros, sobretudo com vieses racistas. Quer dizer, o estado da arte da tecnologia de reconhecimento facial ainda é, por reprodução das desigualdades e estereótipos humanos, preconceituoso e criminalizador. Assim acumularam-se erros de identificação de suspeitos, onde as pessoas negras são as principais lesadas.
Diante desse contexto, a intenção da prefeitura de Osasco de instalar câmeras de identificação facial no Calçadão é um enorme equívoco, para dizer o mínimo. A ideia pode parecer moderna, quando, na verdade, as experiências mais avançadas reprovaram essas aplicações. Não se trata de condenar as tecnologias emergentes por si mesmas, mas sim de denunciar uma política pública policialesca dos governantes. Seja por desinformação ou por oportunismo, alguns municípios brasileiros buscam alternativas “tecnológicas” ineficientes e controversas como band-aids digitais para problemas complexos de segurança da cidade, mais mal, reforçando o problema do racismo – não menos urgente para a população osasquense. É inaceitável a captura pela prefeitura dos nossos dados mais sensíveis em nome dessa aventura fatalmente racista.
Gabriela Schmidt – Mestranda em Sociologia na FFLCH/USP