Saúde Mental e o Sofrimento Coletivo
Opinião - Deise Oliveira explica a importância da Audiência Pública sobre Saúde Mental e Assédio Moral realizada na Câmara de Osasco
13 out 2021, 10:30 Tempo de leitura: 3 minutos, 42 segundosAo longo destes 15 anos atuando como Psicóloga pude acompanhar muitas pessoas em sofrimento psíquico. A maioria com questões relacionadas à depressão que chegaram inclusive a cometer suicídio. O assunto ainda gera tabu, porém nota-se que há uma discussão mais ampla e detalhada aqui no Brasil desde 2014 quando a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) trouxe foco para o Setembro Amarelo no qual durante todo o mês debatemos sobre prevenção do suicídio.
Percebo também que nunca se falou tanto em Saúde Mental como nos últimos meses. Neste momento pandêmico, percebe-se o quanto as pessoas estão abaladas e acometidas por questões relacionadas ao isolamento: ansiedade, insônia e depressão passaram a ser muito mais presentes em nosso cotidiano*.
Estamos em um luto coletivo, o que nos leva a ficarmos cada vez mais sensíveis e atentos à Saúde Mental da população. Dessa forma, quanto mais forem tratadas e/ou debatidas essas questões poderemos prevenir a perda de cada vez mais pessoas.
No último dia 18 de agosto, a Comissão de Saúde e Assistência Social recebeu um grupo de Servidoras Públicas da Secretaria da Saúde, as quais formalizaram uma denúncia de Assédio Moral. Dentre várias questões, elas compartilharam a angústia de não ter um canal de denúncia para registrar os assédios sofridos.
A partir de tal situação, foi realizada no dia 27/09/21 uma Audiência Pública na qual representei a AtivOz. O Assédio Moral foi debatido como um comportamento tóxico dentro das instituições públicas, privadas e até mesmo nas famílias. Ele é combustível para pessoas com tendências autodestrutivas. E, quando ocorre em ambientes de trabalho, praticado cotidianamente, acaba por trazer prejuízos imensos para a estrutura física e emocional das pessoas.
Em 2021 o tema do Setembro Amarelo foi “o agir salva vidas”. Realmente é urgente dialogarmos com as pessoas e através da escuta, acolher suas inquietações e compreendermos como caminhar para ações que de fato previnam doenças e fatalidades.
Dentro do SUS temos os CAPSs (Centros de Atenção Psicossocial) e na nossa cidade há 3 unidades: 1 Adulto, 1 Álcool e Drogas e 1 infantil. Há 10 pólos de atendimento de Saúde Mental com filas de espera de até 5 meses. Ou seja, a população osasquense não tem acesso rápido e fácil à saúde mental e os trabalhadores dos equipamentos públicos não têm um canal para denúncias.
Desde o início da nossa mandata, recebemos muitas denúncias de Assédio Moral e temos acompanhado de perto essas situações. Denunciamos a falta de profissionais de saúde mental. É muito vergonhoso que uma cidade com quase 700 mil habitantes com o 2º maior PIB do Estado de SP e 8º maior dos municípios do Brasil não tenha estrutura para cuidar da saúde mental da população e dos trabalhadores da Saúde.
Aqui na Mandata, a Saúde Mental é uma pauta básica: sem saúde mental não existe saúde física. E fazemos questão de enfatizar que: a prevenção do suicídio e o debate da Saúde Mental deve ser diário e não anual. Precisamos resolver os problemas sociais como Habitação, Saúde e Educação sim! Mas se não falarmos sobre comportamentos que constrangem ou desrespeitam as pessoas teremos cada vez mais pessoas em sofrimento psíquico. É urgente parar de fingir que está tudo bem: o famoso “passar pano” também é prejudicial.
Além do mais, o abuso de poder causa muito sofrimento psíquico! E também quero lembrar que racismo causa sofrimento psíquico! Desrespeito causa sofrimento psíquico! Homofobia causa sofrimento psíquico! Machismo causa sofrimento psíquico!
Quero compartilhar que continuaremos a debater Saúde Mental para além do tema suicídio. Aproveitarei a temática Outubro Rosa para falar mais da Saúde Mental das mulheres e todas as consequências decorrentes do machismo cotidiano. Focaremos na prevenção com base na construção de políticas públicas e fortalecimento das que já existem, como, por exemplo, o CAPS. Para isso, continuaremos a realizar diligências em equipamentos públicos e escutar a população. Afinal, enquanto houver pessoas em sofrimento psicoemocional será necessário falar Saúde Mental.
Deise Oliveira
co-vereadora