PEQUENO BALANÇO
3 ANOS DE MANDATO COLETIVO EM OSASCO
19 dez 2023, 12:00 Tempo de leitura: 5 minutos, 51 segundosSomos adeptos das candidaturas e mandatos coletivos por enxergar como um dos possíveis caminhos de conciliar a participação na política parlamentar e ao mesmo tempo questionar o funcionamento destes espaços. Mas também somos cada dia mais conscientes de que o trabalho parlamentar da esquerda socialista deve ser um ponto de apoio à luta dos de baixo contra os donos do poder político e econômico, desviar-se disso e se perder em discussões autorreferentes é um erro que nos esforçamos para não cometer.
As candidaturas coletivas são importantes para a esquerda porque permitem a participação na disputa eleitoral de muitos militantes que não teriam se candidato aos parlamentos pelas dificuldades burocráticas, falta de financiamento e pela dificuldade de se colocar publicamente, e isso afeta particularmente as mulheres, lgbts e pessoas racializadas. Na candidatura coletiva é apresentada a pessoa que vai estar na tribuna e à frente dos atos oficiais, mas ela apresenta também os militantes que fazem parte daquele projeto e que, em alguns casos, poderão compor a assessoria parlamentar.
Para esse arranjo dar certo, particularmente no caso de êxito eleitoral, é importante que os militantes tenham uma visão amadurecida sobre o que é o parlamento, os seus limites e as armadilhas que a direita e o oportunismo jogam todo dia para atrapalhar a atuação parlamentar da esquerda combativa. O risco de as candidaturas e mandatos coletivos se fecharem em si mesmos e serem corroídos por intrigas e disputa de vaidades não é pequeno.
Coletivo e Personalismo
O personalismo, a substituição da força do coletivo pelo atendimento da vontade de um indivíduo é um problema importante na esquerda, um sintoma de burocratização. No entanto, não se combate o personalismo com o fatiamento da atuação parlamentar entre pessoas que trabalham de forma individual como se fossem acionistas de uma empresa ou um pequeno parlamento dentro do mandato. No nosso partido são muitos os mandatos que se apresentam da forma tradicional, em nome de um único quadro político, mas na prática são ancorados em um trabalho coletivo e democrático. Da mesma forma é absolutamente possível um mandato coletivo ter membros seduzidos pelo poder e vaidade que se comportam de forma grosseira e desrespeitosa com quem julgam não usufruir do mesmo status. O personalismo se combate com o processo de decisão coletivo e fundado em um projeto que transcende os indivíduos.
E a AtivOz?
Não é segredo que não esperávamos a vitória eleitoral, a candidatura tinha como objetivo fortalecer um movimento na cidade, ajudar a chapa do PSOL e aprender a fazer política nas eleições. Mas a proposta política e o apoio decisivo de figuras importantes do PSOL permitiram que uma candidatura que gastou pouco mais de 3 mil reais conseguisse vencer candidaturas tradicionais da cidade que gastaram centenas de milhares.
Assumimos o mandato como a única oposição em uma câmara dominada pela direita, pelo fundamentalismo cristão e pelos interesses econômicos dos poderosos da cidade. Mesmo com a pouca experiência e assumindo o mandato no auge da pandemia, conseguimos estruturar um trabalho que nos orgulha. No primeiro ano, priorizamos o combate à pandemia, apresentando projetos de lei e indicações que buscavam salvar vidas, distribuímos milhares de máscaras nas ruas e denunciamos no MP os vereadores que defendiam a cloroquina. No segundo ano, estivemos junto com os movimentos sociais nas ruas contra Bolsonaro e a ameaça do fascismo, fomos ameaçados muitas vezes, mas nos orgulhamos de termos organizado atos como o escracho contra os vereadores que homenagearam o ex-presidente e fomos parte importante na cidade de uma grande campanha para eleger Lula contra Bolsonaro. No terceiro ano, a prioridade foi denunciar os problemas de Osasco que o marketing do Lins não mostra – abandono da Cultura, crise grave na Saúde, assistência social que não respeita os direitos humanos e crescimento urbano desordenado que exclui os pobres e acaba com o meio ambiente. Nesse período também aprovamos três projetos de lei e trouxemos 6 milhões de reais para a Saúde, Educação e comunidade LGBTQIA+ da cidade, organizamos dois cursinhos nos extremos da cidade, lutamos com os servidores na campanha salarial e contra a reforma da previdência, voltamos com a parada LGBT, criamos a frente contra a privatização da Sabesp e muito mais…
Mas nós tivemos algumas crises, dificuldades organizativas, em determinadas políticas não atuamos tão bem quanto o povo da nossa cidade merece. Estamos sempre dispostos a debater nossas más decisões com os ativistas e movimentos sociais na cidade, temos muito ainda a aprender, mas é preciso reconhecer que o ritmo de trabalho nos últimos anos foi muito intenso e que a militância em torno do mandato (assessores, covereadores e parceiros) fez o seu melhor ou, pelo menos, muito perto disso.
Decisão coletiva interna – O que é o covereador?
Uma decisão tomada depois de muito debate foi a de que as decisões estratégicas do mandato seriam tomadas por todos os militantes e não apenas pelos covereadores. Isso foi decidido como reafirmação do entendimento de que o covereador não é mais importante ou tem mais poder do que os outros militantes. O covereador é o militante com a função principal de figura pública, mas outras funções militantes como as de organização, comunicação e formulação são igualmente importantes para atingir o objetivo em comum. E mesmo entre a função de figura pública existem diferenças, alguns covereadores são figuras públicas de pautas setoriais. A função de covereador também não é necessariamente intransferível e, por motivos diferentes, covereadores entraram e saíram nesse período.
Decidimos coletivamente fortalecer a Juliana como figura principal, não apenas porque – pela forma institucional de funcionamento do parlamento – ela é a figura que ocupa a tribuna, mas também reconhecendo algo que naturalmente já acontecia: a Juliana é a figura mais dedicada e com mais projeção, a principal porta voz da nossa atuação na cidade. Diante da crise da saúde ou do crescimento urbano excludente de Osasco, não faz sentido deixar de publicar vídeos porque a quantidade de vezes que um covereador aparece é maior que outro.
A política é um exercício muitas vezes angustiante, por isso precisamos aprender a lidar com questões internas de forma tranquila, sem expor militantes e sem embarcar em disputas fratricidas que só interessam à direita da cidade e a alguns abutres oportunistas. Estamos tranquilos e convictos de que temos um processo de decisão interna, com erros e acertos, democrático e coletivo, e que estamos conseguindo conciliar cada vez melhor a atuação rápida e combativa com um bom ambiente de trabalho.
Assinam esse texto: Juliana Curvelo, Higor Andrade, Angela Bigardi, Victor Luccas Moura, Rafael Borguin, Amanda Capel e Paula Veneroso